Antígona: liberdade e opressão
(pelos 50 anos de Abril)
A tirania, entre muitos outros privilégios, goza o de fazer e dizer o que lhe apraz.
Sófocles, Antígona, vv. 506-507.
Não nasci para odiar, mas sim para amar.
Sófocles, Antígona, v. 524.
A intrépida decisão de Antígona de empreender sozinha a tarefa de dar sepultura a seu irmão Polinices, contrariando assim o édito que proibia as honras fúnebres a este filho de Édipo, desencadeia um insolúvel conflito com o seu tio Creonte, o novo senhor da cidade de Tebas.
São diferentes e irreconciliáveis critérios de justiça que estão na origem deste conflito, que atinge o paroxismo num longo e tenso agon (vv. 446-525), no auge do qual a jovem filha de Édipo arrebatadamente afirma que “a [tirania], entre muitos outros privilégios, goza o de fazer e dizer o que lhe apraz” (vv. 506-507). À lei particular escrita de Creonte, contrapõe Antígona, em defesa da sua destemida atitude, a lei natural não escrita, que é de sempre e que ninguém sabe quando apareceu. Ainda que por decreto fosse proibido prestar honras fúnebres a Polinices, era justo fazê-lo, porque na opinião da destemida jovem – nascida para amar e não para odiar –, esse era um direito natural que lhe assistia.
Com esta inconciliável ação desafiadora, que incessantemente questiona os poderes coercivos de Creonte, Antígona torna-se num paradigma de contestação a todo e qualquer exercício de poder absoluto e num exemplo de mulher ciente do seu papel na sociedade, dois mitemas que serão largamente glosados pela literatura ocidental.
Dotado de uma inextinguível capacidade de reconfiguração, este mito foi significativamente escolhido pelo grupo de investigação “Mitografias: temas e variações” para celebrar os 50 anos da “revolução dos cravos” (25 de abril de 1974), que marcou o fim de um longo período de opressão em Portugal e a consequente conquista da liberdade.
Com a presente iniciativa pretende-se dar continuidade, reforçar e promover a investigação em áreas multidisciplinares, compreendendo a literatura, a cultura, a linguística e a tradução, bem como as suas relações com outros domínios científicos, literários, artísticos e culturais.
Painéis temáticos
Aceitam-se propostas de comunicação, nas áreas temáticas seguintes:
- O mito de Antígona e sua receção;
- A figura do ditador;
- O papel da mulher nas lutas de libertação;
- A questão da justiça;
- Prepotência e rebelião;
- Mecanismos de repressão e de controlo ideológico (censura, polícia política…);
- O papel da imprensa, da literatura e das artes na luta contra a ditadura;
- Guerras fratricidas;
- Memórias da guerra colonial na literatura;
- Os movimentos de libertação.